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A elegância de um sorriso

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Ainda lembro a primeira vez que assisti ao clássico “Bonequinha de Luxo”. Me encantei de cara. Passei dias e dias fascinada com as luvas que subiam até os cotovelos de Holly Golightly, personagem icônica de Audrey Hepburn. O vestido preto, o cabelo em um coque elegante, a inocência da jovem que queria encontrar um grande amor. É aquela coisa de “como vivi tanto tempo sem isso?”

Foi naquela época maluca da vida chamada pré-adolescência, ali entre os 11 e 13 anos, quando a aparência no espelho é esquisita e desajeitada, que conheci Audrey Hepburn. Eu odiava a aparência que via no espelho. Desejava muito – e o mais rápido possível – mudar o que eu era. Maquiagem, cabelo, unhas. Os vestidos, saias rodadas e o rosto lavado já não me cabiam. Eu queria lápis preto, batom vermelho e sapatos de salto alto. E, por incrível que pareça, Audrey me ajudou a entender que elegância não tem nada a ver com isso.

Primeiro, ela não se encaixava nos padrões de beleza de sua época. Assim como acontece com muitas de nós. Ela não tinha o corpo curvilíneo da Marilyn Monroe e nem o rosto sexy da Brigitte Bardot. Audrey tinha cabelo curtinho, não tinha o “desejado” corpão. E, ainda assim, era incrivelmente linda. Ela era diferente. E se aceitava diferente. Não havia problema algum com isso.

E foi por se aceitar e, principalmente, por não mudar aquilo que era, que a eterna bonequinha abriu um novo caminho para o estilo. Audrey tornou-se ícone da moda se respeitando acima de tudo. Enquanto outras grandes musas exibiam suas curvas em vestidos decotados reveladores, Audrey imortalizou o vestidinho preto, a peça mais simples, atemporal e mítica do guarda-roupa feminino.

Para mim, esta é a maior lição de estilo e moda que você pode dar a uma menina de 13 anos. Ou a qualquer mulher. Não estou dizendo que Brigitte, ou qualquer outra que se encaixa nos “famosos padrões”, é menos mulher, menos elegante ou tem menos amor próprio. Não é isso. É que em uma época onde as mulheres tinham ainda menos voz, ainda menos espaço, se recursar a entrar “na caixa” foi de uma coragem admirável. É preciso ter muita segurança de quem se é para fazer isso.

Você não precisa entrar em um vestido justíssimo e tentar se equilibrar num sapato para ser linda. Você pode ser feminina de calça jeans, camiseta listrada e sapatilhas. E se quiser subir nos sapatos de saltos e abusar do decote, também não tem problema. A questão é que para ser linda, sexy, elegante e mulher você não precisa mudar aquilo que é.

Audrey me ensinou que elegância e beleza são coisas que vêm de dentro. Ela não está naquilo que você veste. O que vale é a atitude de quem a veste. Porque de bonequinha de estante ela tinha muito pouco. O segredo dela era transbordar em atitude. Foi atriz, bailarina, mãe, fez mais de 25 filmes e dedicou seus últimos anos de vida para cuidar de crianças carentes pelo mundo, quando foi embaixadora da boa vontade da UNICEF. Pois é, a menina que passou fome na infância e sofreu com desnutrição, ganhou Hollywood e o mundo. E ganhou a minha admiração.

Este mês, dia 20, faz exatos 25 anos de sua morte. E eu tentei escrever por aqui tudo que ela representou para mim. Ainda sofro com o espelho. Ainda desejo algumas mudanças. E Audrey ainda me ajuda com isso. Tenho ela espalhada pelo quarto. Não, não para copia-la. Mas, para me lembrar sempre da força que temos.

E essa força que ela transmite de forma sutil e delicada fez a diferença para aquela menina lá de trás. E faz diferença para a mulher que sou hoje. No guarda-roupa tem espaço para as sapatilhas e os saltos altos. Tem lugar para as confortáveis e inseparáveis camisas de listras e os vestidos mais ousados. Tem espaço para ser quem eu sou. Da maneira que quero. Audrey me ensinou que a imagem no espelho vai além do físico. É estado de espírito. Obrigada pela elegância do seu sorriso, Audrey.

Sigamos juntas.

 

 

2 comentários em “A elegância de um sorriso”

  1. Mari, parabéns pelo texto e por essa exposição tão simples e fundamental. Pautado no que escreveu, acredito que você, nesse instante, esteja sendo inspiradora de muitas jovens que a estejam lendo. Audrey foi-lhe referência; Mari deve estar sendo também. Abraço.

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