comportamento

A solidão como companhia

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Quem me conhece sabe o quanto eu gosto de estar cercada de gente. Acredito que uma das coisas mais importante da vida são as pessoas que cativamos ao nosso redor e defendo a ideia de que poucas coisas no mundo valem mais do que colo, carinho, sorvete, abraço e conversa. Ficar sozinha ou estar sozinha nunca foi encarado de uma maneira fácil por mim. Até o dia que eu precisei parar e olhar quem estava ao meu lado.  

Não quero me gabar, mas me acho uma amiga fiel. Eu sempre estou ali, não importa o que aconteça. E estou sempre pronta para ajudar. Mesmo quando esse “cuidado” ou “carinho” não é recíproco. Porém, alguns acontecimentos – deste 2016 para lá de maluco – me fizeram refletir sobre até que ponto vale o esforço por uma companhia. O fato é que por cansaço ou decepção, a gente acaba percebendo que, às vezes, algumas pessoas não valem o sossego e a sensatez trazidos por um bom bocadinho de solidão.

Companhia é uma necessidade humana. Somos seres sociáveis, vivemos em comunidade. E valorizamos isso. Porém, é preciso entender até onde existe uma relação verdadeira ou quando o medo de ficar sozinha acaba anulando quem você é. E era nesse ponto que eu queria chegar quando comecei a escrever esse texto.

Devo admitir que, por prezar as pessoas que tenho ao meu redor, acabo fechando os olhos para alguns sentimentos e sensações e, de certa maneira, deixo de lado desejos e vontades. Sabe aquela vontade absurda de dizer “não” para sua amiga em um sábado que você só quer ficar de pijama e acompanhada de um bom livro? Pois é, eu não tinha coragem de dizer esse “não”. Eu não queria “perder” aquela pessoa. Porém, relações saudáveis e verdadeiras não funcionam assim. Toda relação é uma troca. Se doar demais, mesmo que seja por medo de ficar sozinho, não é bom para ninguém.

Porém, o medo da solidão não é algo sem fundamento. Aprendemos desde cedo que solidão é tristeza, é castigo. Temos razão em ter medo. E é claro que solidão demais é um problema e, a partir do momento em que ela se torna sua “única opção”, você precisa de ajuda. Precisamos das pessoas e isso nos ensina a adubar as relações que nos alegram e a valorizar quem nos traz bons momentos. E temer a solidão é o ponto essencial para continuarmos a nos relacionar. Mas, até o medo de ficar sozinho precisa de uma medida certa. Medo demais vira pavor e pavor nunca é bom.

O medo é um sentimento complicado. Ele nos torna prudente e nos protege de alguns impulsos. Mas também pode nos fazer refém. O medo de altura, por exemplo, nos protege da vontade súbita de debruçar na janela do nono andar. É bom senso. É protetor. É esse o medo bom. 

Já o medo de altura, que te impede de tomar um avião para conhecer novos ares, não é tão bom assim. O pavor de tirar os pés do chão pode te privar das delícias de uma montanha-russa, das belezas de uma vista panorâmica e das alegrias de voar. Esse medo é ruim. É o medo que priva.

É justamente assim. Da mesma forma que o medo da solidão nos ensina a ser mais responsáveis com os sentimentos das pessoas que amamos, o medo desmedido pode nos fazer cometer aquele velho erro de desejar companhias que não valem o sossego e calmaria da nossa solidão.

Com o tempo, eu aprendi que não existe ninguém melhor do que eu mesmo para estar. E que as pessoas são maravilhosas, mas a solidão também tem suas alegrias. Aprendi que tem gente que realmente não vale o esforço. De jeito algum. É melhor curtir a própria companhia e entender que ela pode ser um privilégio. Não é todo o mundo que merece ter a chance de perturbar a minha calmaria.

Lidar com a solidão proporciona autoconhecimento e ensina até a nos relacionar melhor. Ficar sozinho é bom sim. Passar a tarde em uma praia só com a companhia dos seus pensamentos e de um bom livro é impagável.

A solidão é uma ótima amiga. Ela só precisa de limites, como tudo na vida. Você pode ser uma ótima companhia para você. Com a solidão, você aprende que as relações só são gostosas se forem recíprocas.

A verdade é que crescer tem disso. De se colocar em primeiro lugar. E nos mostra que não tem jeito: mais cedo ou mais tarde a gente aprende a se amar e a solidão fica mais gostosa do que algumas companhias. E que a calmaria da solidão só deve ser trocada por quem realmente te quer bem. Por quem realmente vale.

 

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